Caso observado em Portugal recolheu indicadores do que pode ser a primeira reprodução por partenogénese de uma boa cubana.
A notícia de que, nos Estados Unidos, uma cobra de 62 anos teve crias apesar de não contactar com machos há 20 anos está a correr o mundo mas um artigo científico português, publicado em fevereiro de 2020, mostra que há pelo menos um caso semelhante registado em Portugal.
Uma boa cubana (Chilabothrus angulifer) do Zoo da Maia também se reproduziu em 2013 e 2017, apesar de não estar em contacto com qualquer macho da sua espécie desde 2006, quando o seu parceiro morreu. Na coleção do zoo desde 1999, o caso desta cobra intrigou investigadores portugueses e espanhóis, que acabaram por concluir que este será o primeiro caso registado de uma reprodução por partenogénese nesta espécie.
No primeiro episódio, registado em 2013, esta fêmea depositou uma “massa amarelada de ovos não desenvolvidos e deu à luz a um nado morto que foi preservado numa solução de formol a 10%. Em 2017, esta mesma cobra “deu à luz um nado morto e depositou múltiplos ovos não-embrionados”.
As boas cubanas são uma espécie ovovivípara, o que significa que os ovos se desenvolvem dentro do corpo da fêmea, que depois dá à luz crias já formadas.
O espécime preservado foi sujeito a análises genéticas que permitiram determinar que o embrião foi resultado de um fenómeno de partenogénese facultativa.
A partenogénese é um fenómeno biológico que possibilita o crescimento e desenvolvimento de um embrião sem fertilização. Neste caso, ambas as crias observadas eram fêmeas com características macroscópicas de uma cria desenvolvida, embora a de 2017 apresentasse anoftalmia bilateral – uma condição que impede o desenvolvimento de ambos os globos oculares.
A fêmea, que não tinha contacto com um macho há 13 anos (à data deste estudo), também não armazenou o esperma do último parceiro, algo que já foi observado noutras espécies de cobras, demonstrou o estudo. O caso mais longo de armazenamento de esperma de uma cobra é de sete anos e seis meses.
Neste estudo, “foi descrita a falta de contribuição genética de um macho para os descendentes com recurso a análise molecular”, excluindo o armazenamento de espera. “Os altos níveis homozigóticos detetados na descendência são característicos da partenogénese”, lê-se.
Este caso, observado no Zoo da Maia, tornou-se assim no primeiro caso documentado que sugere partenogénses facultativa de uma boa cubana.