A hora está marcada no calendário e já faz parte da rotina. No Chantre da Maia, quando o relógio indica as 22 horas, é altura de ir à janela, ligar as lanternas dos telemóveis e cantar ao som da esperança.
O movimento tornou-se de tal forma essencial para combater a solidão do isolamento, que acontece, consecutivamente, há cerca de um mês.
A ideia surgiu a Guilherme Rebelo, de 16 anos, depois de uma salva de palmas aos profissionais de saúde, a 14 de março, se ter repetido espontaneamente.
“Não era suposto, mas no dia seguinte ouvi bater palmas também”, conta o jovem que, ao perceber a vontade dos vizinhos em criar um movimento, decidiu começar a animar as noites de todos os moradores
Uma simples coluna e um megafone transformaram-se agora num sistema profissional que alimenta a esperança de que melhores dias virão. O material, emprestado por um dos vizinhos, Marco Andrade, foi “uma peça chave”, afirma Guilherme, agradecendo a ajuda.
“O evento dura cerca de dez minutos, até porque não queremos incomodar muito quem ainda trabalha ou chega do trabalho cansado. Começamos às 21.57 horas com uma música escolhida por nós para ir chamando as pessoas”, explica o jovem de 16 anos, estudante na escola de Balleteatro, no Porto, que cria um alinhamento novo a cada duas semanas.
Todas as noites há um programa diferente. A seleção de músicas é decidida em conjunto com a família de Guilherme.
“Depois, a vizinha Sandra Carneiro passa tudo para um documento, imprime e afixa nas portas dos prédios para que todos saibam a música que vamos passar”, explica o jovem, que garante receber muitos pedidos de moradores, através da página de Instagram “noitesdochantre”, no caso de se tratar de uma data importante.
“Também cantamos os parabéns e já transmitimos mensagens de familiares de alguns vizinhos que estão distantes”, conta Guilherme, orgulhoso, admitindo que não conhecia “metade dos vizinhos”.
“Agora já falamos uns com os outros. Encontramo-nos na rua, com as devidas distâncias, e começamos a conhecer-nos todos muito melhor”, admitiu o jovem, salientando a importância do papel de todos.
“No fundo, é um movimento de união e solidariedade. Os grandes impulsionadores deste evento são os vizinhos que continuam a ir à janela e a cantar connosco”, conclui Guilherme.