A Câmara Municipal da Maia aprovou, esta segunda-feira em reunião ordinária, a alienação em hasta pública de um terreno com a área de 140.625m2 onde deverá nascer a futura Academia do F. C. Porto. A aprovação foi por maioria, com o voto contra do PS cujo vereador Francisco Vieira de Carvalho criticou o processo.

A base de licitação cifra-se em 3,36 milhões de euros e a decisão terá de ser ratificada em assembleia municipal, agendada para a próxima segunda-feira, mas já motivou uma forte discussão na reunião camarária, com trocas de acusações entre o executivo e os vereadores socialistas, que votaram contra.  

Agora, caso o processo não encontre oposição na Assembleia Municipal da próxima semana, o processo de licitação pública começa após ser publicado em Diário da República e terá um período de 20 dias, que termina antes das eleições do F. C. Porto, agendadas para 27 de abril.

A futura Academia dos dragões prevê a construção de nove campos relvados, quatro dos quais com bancadas até 400 espectadores, um campo de futebol de sete e um mini-estádio com uma bancada de 2500 lugares, além de um edifício com 70 quartos duplos.

Recorde-se que a iniciativa recebeu um parecer desfavorável da Comissão de Coordenação Regional do Norte, devido a achados arqueológicos, que não devem impedir a construção, mas que podem obrigar a algumas alterações ao projeto desenhado pelo arquiteto Manuel Salgado.

No entanto, não foi esta a questão a levantar polémica na reunião camarária, mas sim os pontos levantados pelo vereador Francisco Vieira de Carvalho, que colocou em causa a transparência de todo o processo.

“Quem entra no processo de compra foi uma empresa de Braga, chamada ABB, em relação os tais hectares que o F. C. Porto diz que são deles. Não sabemos quem é o dono de quê ou fica com o quê. O uso vai ser da F. C. Porto SAD, mas quem vai ser o dono, faz a construção e arrenda não é o F. C. Porto, mas sim a ABB, de Gaspar Borges. Tudo aquilo que andam a dizer, que as máquinas já entraram é confuso para a Câmara e para mim como autarca. Cada um diz o que quer, mas quando isso colide com a nossa função como autarcas passam para notícias, as pessoas pensam que isso já existe, quando nada disso é possível”, afirmou o vereador socialista, apontando os nomes de João Koehler e Pedro Pinho.

“Quem o disse é o João Koehler, que também estará metido neste negócio: se for comprado por alguém, que faça a obra e arrende ao F. C. Porto por um preço alto estamos a falar de um negócio da China. Pedro Pinho, pelos vistos, também estará com Koehler e Borges. O F. C. Porto é que vai usar, mas existe negócio antes disso, mas metade dos imóveis já foram comprados pela ABB, que fez o centro de estágio de Braga. O povo da Maia não tem gostado de ouvir estas notícias”, defendeu, antes de criticar o preço.

“A verba em que começa a hasta pública tem de ser questionada. Um importante imóvel a 23 euros o metro quadrado? Felizmente, na Maia não existem mais imóveis a este preço. A Maia não pode estar em saldo ou dar a ideia que está em saldo”, referiu, sendo desmentido pelo presidente da Câmara.

“Disse tanta coisa errada, que até manifesta alguma ignorância e dou-lhe um exemplo: vamos comprar a Quinta do Mosteiro, são 20 hectares, com edifícios, por valor equivalente a este. Esta propriedade não tem 14, tem 20 hectares e uma casa conventual, peça arquitetónica, jardim, fontes, alfaias agrícolas e vamos comprá-lo por um valor por metro quadrado apenas ligeiramente superior ao da Academia”, referiu António Silva Tiago.

“A avaliação foi feita por peritos, inscritos na CMVM e no tribunal, o nosso técnico, Carlos Silva. Temos ainda um avaliador externo, que até é da Maia. O PDM define, em rigor, um conjunto de regras e essa avaliação desceria consideravelmente quando o PDM for revisto. Se nós esperarmos pela revisão, este valor baixava consideravelmente. É um valor extremamente confortável, perfeitamente justo e defensável”, acrescentou o edil.

“Isto vai ser posto em hasta pública e será vendido a quem der mais – é feita de forma límpida, transparente e cristalina. Não há aqui negócios, nem nada, zero. Quem estiver habituado a isso que saia da Câmara da Maia. A Unidade de Execução está aprovada e quem comprar tem de construir o que está previsto. Tudo feito com o maior rigor e transparência. Não damos nada a ninguém: pagámos 8,1 milhões de euros por 72 hectares deste terreno em 2003 e, agora, vamos alienar 14 hectares por uma base de licitação de 3,36 milhões”, especificou o presidente da Câmara.

Quem também fez questão de abordar o caso foi Mário Nuno Neves, vereador do planeamento territorial. “O que emperra este processo é o ato eleitoral do F. C. Porto. A nós tanto nos dá que seja o presidente A ou B, o que nos interessa é a instituição. Quando for a hasta pública nem sabemos se é o F. C. Porto, um parceiro, um vizinho ou a prima do F. C. Porto a adquirir. Quando for lançada, venha quem vier, com a certeza que terá de cumprir o que está aprovado. Nós, Câmara, não devemos contribuir para este alarido todo. Esse barulho que seja feito no fundo do nosso quintal, que já nem é Maia. É ruído ridículo e pernicioso. Seja o F. C. Porto, o Benfica, o Al Hilal, eu até sou do Benfica e o presidente também”, referiu.

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